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domingo, fevereiro 13, 2005

Santarém Solidária 

Santarém, Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2005, 10:10 da manhã, mal entro pela sala de professores, os meus olhos batem num pequeno folheto azul com as iniciais garrafais: U.H.F.
Lembro-me de ter pensado por que raio os pontos? Mas outro pensamento mais forte ocupava já o meu espírito. UHF: Onde? Quando? Não é possível! Em Santarém?! O quando fez-me tremer da cabeça aos pés: 15 de Janeiro, sábado. Quase tive um colapso. Isto não me estava a acontecer. Era um pesadelo. Dia 15, sábado, tinha uma visita de estudo ao Porto. Déjà vu: no primeiro concerto da Glória do Ribatejo (aqui na zona) de 2004 eu também ia em direcção oposta….agora, com concerto em casa, vou eu a caminho do norte! A manhã desenrolou-se longa e penosa para quem queria desesperadamente mais esclarecimentos e confirmações sobre aquele folheto azul. Com o meu historial de azares já previa o filme: nunca conseguiria assistir ao concerto! Lá fui à Net e enviei SMS de socorro para saber a hora do concerto. Quando percebi, finalmente, que eu era das últimas a saber, que Santarém se tinha associado à onda de solidariedade para com as vítimas da catástrofe no Sudeste Asiático, tendo organizado um verdadeiro festival Rock com várias Bandas cá da zona, com os UHF a terminar este grande momento de festa – fiquei doente!
Tentando ser optimista fui sonhando com um regresso célere do Porto a tempo de, pelo menos, cumprimentar os UHF. Tenho um fanzinho de 9 anos cá em casa, a quem tentava poupar a dor de não poder assistir ao concerto. Escusado será dizer, que ele deve ter descoberto pouco depois de mim, por meios próprios. Estava encantadoramente excitadíssimo com a ideia de rever uma das suas bandas de rock preferidas. Não preciso de entrar em pormenores sobre o desapontamento, a desilusão que sentiu e expressou quando percebeu que não havia ninguém para o levar.
Santarém, Sábado, 15 de Janeiro de 2005, 23:00 – o Intercidades do Porto chega à estação de Santarém largando cerca de 50 pessoas de uma visita de estudo. Há uma gaja que corre como louca para o carro, despedindo-se dos demais em alta velocidade. Leva mais duas no carro e ainda tem de ir buscar o puto, que nem dorme só a sonhar com um certo concerto.
Ao estacionar o carro nas imediações do emblemático Largo do Seminário, ouve-se o “Quando” e a adrenalina sobe em flecha. O Largo do Seminário está iluminado como nunca esteve: há velas acesas espalhadas pelas escadas que sobem até à bela igreja, mesmo aos pés dos UHF que já mudam de tema. O som eleva-se pelas velhas paredes dos monumentos da antiga praça. A típica brisa ribatejana, que habitualmente envolve a cidade no seu planalto, corta qualquer coração aquecido. Mas o público não falhou. Veio ao chamado solidário e já se agita ao som dos sucessos da carreira desta banda mítica do rock português. E eles sucederam-se durante hora e meia, com encore incluído: Cavalos e a Menina Estás à … AMR foi prometendo que este era apenas o primeiro concerto da tour de 2005, para delírio dos fans. Pelo meio reencontrei os amigos da tribo de Alverca e mais alguns da Glória. E sabe tão bem…. este constante reencontro de amigos que ficam para sempre ligados afectivamente aos UHF. Sim, não se trata meramente de um clube de fans, pessoal. Não se vêem as longas filas de fans histéricas no final na caça do autógrafo. No final de cada concerto a história é só uma: o reencontro de amigos a quem os UHF nunca negaram a amizade, os cumprimentos, o convívio, enfim, aquele “Copo Contigo” de mais um concerto.
Pessoalmente, ficará para sempre na memória a emoção de os ter visto ao vivo, em casa, pois tal nunca acontecera, embora já cá estivessem estado há cerca de 20 anos. No geral, fica a inquietante alegria de ter ouvido testemunhos de jovens adolescentes, que assistiram ao concerto, dizer que a festa se salvou pelos UHF. O que há então de errado com as vendas de CDs? Porque não chegam os UHF a mais ouvintes e apreciadores? A luta continua, pois não somos egoístas: não os queremos só para nós. Quando se gosta, partilha-se e espalha-se a palavra….

Ah! Já me esquecia: o tal puto de 9 anos, delirou, claro.

Lena Neves



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