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sexta-feira, janeiro 23, 2004

UHF: O Meu Tríptico
(a todos os Malditos deste País) 

Celebração

Quero a redenção desta reformadora preguiça existencial!
Quero viver na perigosa ascética da vida,
Mergulhar no sacrifício libertador deste quarto...
Beber um copo deste suor acumulado no ritual dos dias!
Quero partilhar a solidão;
Convosco brindar ao êxtase orgásmico do sucesso!

Por esses breves instantes transformar os cinco dias
Num fim-de-semana mágico.
Quero a explosão total da criatividade do Ser,
Contra-reforma deste retiro revolucionário.
Quero o luar forte, brilhante e cheio
Na efémera comemoração deste prolongado silêncio.

Quero vibrar até à exaustão a apoteose dos 25 anos
Nesta vitória da humildade do ego!


Aperto

Os dias de vento
A sensibilidade à flor da pele
O sangue preso na garganta
Da vida!

Tanta depressão para quê?
Em breve seremos pó...


Força

Amo a luta e os desafios.
No palco da vida nunca há descanso
E de tempos a tempos o coração vem parar-nos às mãos...

Sinto o palpitar profundo do povo humilde e sincero,
Num ritual masoquista de irracionalidade probabilística.

Estou aqui para o que der e vier.
Firme e duro.

Radical na ânsia de beber apaixonadamente
Este verdadeiro cocktail cultural que corre no meu sangue.

Nuno Martins, Oeiras.



domingo, janeiro 18, 2004

Estranhos olhos azuis 

(Ao A.M.R.)

Passam estrelas à deriva,
Enlouquece a poeira cósmica:
No reflexo há terra e há mar,
Ave a planar
Altitudes inexplicáveis.

Na sombra se adensa o olhar,
Solta-se um fogo preso,
É a vida que salta em chispas
E se espalha em ondas pelo ar,
Incapaz de conter-se no corpo.

Virá regressando nocturna
Em silêncio triunfal,
À calma limpidez desses tímidos,
Estranhos olhos azuis.


Fã número um



quinta-feira, janeiro 08, 2004

De calças de ganga vestidas (mal sabia eu) 

Lembro-me de ter os meus 4 ou 5 anos de idade, viver na Costa de Caparica. Como qualquer puto, o que eu queria era jogar à bola, ver desenhos animados (na altura eram muito interessantes) ou andar de triciclo.
A primeira vez que me lembro de ter noção de quem eram os UHF e que o meu pai era o vocalista foi em 1982 quando saiu o Persona Non Grata.
A correria nessa altura era muita lá em casa, telefonemas para aqui, correio para ali, enfim… promover um disco e organizar uma tour.
Os músicos da primeira formação eram uns porreiros, tinham uma paciência dos diabos para me aturar… eu não era nada fácil! Guitarras por todo o lado, discos e mais discos numa colecção já na altura magnificamente infindável que o meu pai tanto preservava.
Eu, claro, estava na minha… aliás, nessa altura até acho que queria era ser astronauta!

Vou saltar uns anitos e passar para 1986, ano em que fomos viver para a Quinta do Janeiro na Cova da Piedade. Os primeiros UHF já não estavam juntos e, após algumas mudanças, a formação atinge a estabilidade e mantém-se unida, com o Luís Espírito Santo (meu professor de bateria), Rui Rodrigues (foi com ele que aprendi a trabalhar com os delays) e o Xana Sin. Está-se então a trabalhar no Noites Negras de Azul.
Tenho vivos na memória os dois acidentes que por pouco não me roubaram o pai… Lembro-me de o ver sentado na cama com a guitarra acústica, papel e caneta. Aos poucos Noites Negras de Azul ia tomando forma.
Um dia, cheguei a casa, não estava ninguém… peguei na Gibson Deluxe (linda!!!) do meu pai, que estava num tripé junto à janela da sala, e tentei tocar. Esta foi, pelo menos que me lembre, a minha primeira tentativa de tocar guitarra. Claro que não toquei nada, parti uma corda e tive de fazer uma força enorme pois a guitarra pesava que se fartava! Ufa! Fiquei em pânico… Estraguei a guitarra do meu pai, pensei eu. Mas afinal não tinha estragado nada e com este episódio aprendi que as cordas das guitarras podem ser mudadas… (hehehehe… desculpem mas cada vez que me lembro disto, tenho vontade de rir!).

Em 1988, quando estavam já a misturar o disco, um dia o meu pai chega a casa super feliz. Pega numa K7 que trazia do estúdio e põe a tocar na aparelhagem. Foi a primeira vez que ouvi “Completamente Infiel”. Ele estava eufórico porque do nada tinha-se lembrado de gravar o grito que marca a parte final do tema, um feeling que teve e que o deixou muito feliz.
Uns dias depois, com a minha mãe e a minha irmã, no trânsito da Praça de Espanha, tentando chegar a horas à escola, fiquei a saber que os UHF estavam sem editora e que, nesse mesmo dia, ia ser apresentado à Edisom o Noites Negras de Azul. A minha mãe no meio do nervosismo do caótico trânsito diz: “Deus queira que a reunião hoje corra bem ao teu pai, ele merece” e, então, explicou-me que os UHF estavam há uns tempos sem editora e que tinham de assinar contrato com outra para poderem editar o novo disco.
A reunião correu bem. Uns tempos depois o disco sai e começo a ver e ouvir os UHF por todo o lado na TV, nas revistas, em concerto, na rádio, etc..
O single entrou directo para o primeiro lugar do top de vendas, onde esteve por várias semanas e o álbum entrou directo para quarto lugar e manteve-se no “top 20” por outras tantas semanas.
Até no liceu onde eu andava, a “Escola C+S Delfim Santos”, em Benfica, os meus colegas levavam o disco para a escola! Eu estava estupefacto, toda a gente falava daquele trabalho!
Foi por esta altura que me entusiasmei e comecei a querer, a sério, tocar guitarra.

Em 1989, uns dias antes do meu aniversário o meu pai perguntou-me o que eu queria de prenda de anos. Disse-lhe (e vocês já adivinharam!) uma guitarra…
No dia seguinte, ou no outro, já não me lembro muito bem, fomos (eu, o meu pai e o Rui Rodrigues) à Euromúsica do Centro Comercial M. Bica, em Almada.
As guitarras eram tantas, e eu não percebia nada da matéria, que fiquei paralisado… o meu pai ia dando ideias até que olhou para uma Kramar, modelo Van Halen e diz: “Esta guitarra é boa! Não queres esta?” Eu, tímido, disse-lhe que não sabia quem era o Van Halen e que a guitarra tinha um feitio esquisito! (claro que passados uns meses eu estava viciado no Van Halen, tinha então adquirido uma série de discos dele e ficava maluco a tentar tocar o que ele tocava… e a não conseguir… hehehe) Escolhi uma Vester branca (modelo Stratocaster) que mais tarde baptizei de “Stratocaspa” !!! Hehehe (desculpem, mas relembrar estas cenas é mesmo muito divertido).
O primeiro amplificador foi um Fender, pequenino mas muito endiabrado!

Ainda eu não sonhava o que era um acorde ou uma escala e um dia o meu pai pediu-me o Fender emprestado. Eu, todo contente por poder estar a ser prestável, fui buscá-lo imediatamente e entreguei-lho. Três ou quatro dias depois trouxe-o de volta para casa. Perguntei-lhe para que tinha servido!?! Respondeu: “para eu gravar a guitarra base do “Fogo Tanto me Atrais” e para o Renato gravar o solo do “Esta Mentira à Solta”. Fiquei de boca aberta…
Os primeiros acordes, aprendi-os a olhar para o meu pai, em casa. Mais tarde tive umas lições com o Zé Motor (na altura roadie dos UHF, hoje técnico de som) no antigo escritório dos UHF junto à escola Emídio Navarro, em Almada. As primeiras escalas aparecem quando o meu pai me oferece o livro “Guitarra Mágica”. Durante um ano tive aulas em Almada com o Carlos Falcão.
Por esta altura vivia no Feijó e acho que passava mais horas a tocar, ou melhor, a tentar tocar guitarra do que a fazer outra coisa qualquer.

Ficam aqui, vagamente, alguns episódios que me marcaram. Espero que gostem de os ler tanto como eu gostei de os reviver ao escrever este pequeno texto.
Obrigado a todos os que me acompanharam e ajudaram a ser (bem ou mal) a pessoa que sou hoje.


António Côrte-Real



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